quarta-feira, setembro 28, 2011

Gravatá e suas "velhas" praças!

Progresso e desenvolvimento econômico! Palavras que se relacionam por vezes com o mote da aceleração, multiplicação e expansão. Numa ótica em que o novo se sobrepõe ao velho, assim desenrolam-se muitos centros urbanos do agreste do Estado. A chegada de complexos industriais, a melhoria das rodovias e a diversificação no comércio, clamam por uma renovação das cidades, que devem se adequar às novas necessidades e anseios, nos moldes haussmannianos ocorridos em Paris, Recife, Rio de Janeiro, Cidade do México, apesar de escalas menores.

O turismo, prática que está sempre a despertar novos olhares e interpretações por vezes auxiliam nesse processo. Na instalação de novos equipamentos de apoio ao visitante e de um embelezamento plástico das ruas e calçadas a fim de agradar a quem chega.

A Praça do "Sapo" (Fonte: Flickr dilsa_cosmopolita06)


Neste contexto, determinados equipamentos urbanos são os primeiros a receber reformas e reconstruções, já que seriam símbolos desse crescimento. As praças, símbolo das sociabilidades e trocas num espaço urbano, são as primeiras a enfrentarem os projetos "mais viáveis" e a velocidade dos tratores. O tradicional Coreto, cede espaço às fontes de cerâmicas ocas e sem plasticidade alguma. Árvores centenárias são substituidas por palmeiras ainda jovens e mudas de espécies exógenas. Esculturas, marcos, totens, bustos e outros trabalhos de artesãos locais, responsáveis pelos títulos populares cedidos a esses espaços, são retirados em prol de grandes vãos abertos propícios às festividades, que por sua visibilidade, asseguram um maior número de eleitores.

Antiga Praça da Matriz - 2008 (Fonte: Flickr dilsa_cosmopolita06)


Partindo dessa breve análise, declaro ser realmente lamentável o que aconteceu com as praças de Gravatá, nestes últimos anos! Como antigo morador e frequente visitante, tenho ótimas lembranças da minha infância na Praça da Matriz e nas popularmente chamadas Praças do "sapo" e Praça "dez". Hoje, quando vou à cidade, sinto estranheza diante dessas novas configurações que por motivos de higienização, segurança e um progresso disfarçado em maquiagens, sofreram verdadeiras "re-formas, re-estruturações" (como um "derruba tudo e constrói um novo"), ao invés de um plano que destacasse seus antigos elementos de maior reconhecimento e referência pelos gravataenses.

Antiga Praça "10"


A preservação do patrimônio, portanto, não depende de legislações punitivas nem de uma vigilância constante dos bens materiais imóveis. Parte-se de um princípio mais de auto-reconhecimento da população, que simplesmente de circunstâncias onde um determinado bem tenha valor arquitetônico ou de antiguidade histórica.

Nesta perspectiva de desenvolvimento, cabe a cada cidade, em suas diferentes comunidades e representações, o poder de decisão dos rumos que seus espaços e lugares de memória devam tomar, num exercício menos de decisões unilaterais de poder que de cidadania.