terça-feira, novembro 14, 2017

cidade e utopia

Tem sido um sonho recorrente, sempre sonho que estou numa cidade que não existe. Ela fica no agreste, às vezes chamam ela de Amaraji, ou Passira ou Agrestina (nomes de cidades que existem), mas a do meu sonho é diferente. Às vezes estou nela sozinho, ou com amigos, ou com familiares. É uma cidade utópica, eu diria. Não há diferenças sociais (como a cidade de William Morris), não há instituições opressoras, não há fome. E a arquitetura? Bem, a arquitetura é o que mais me deixa extasiado, é sempre um prazer ter esse sonho! Parece que algum mecanismo no meu inconsciente é ativado e me avisa: "mais uma vez esse sonho? E aí?"
Essa cidade utópica...como eu poderia descrever essa arquitetura? É como se o familiar e o monumental fossem um só! O sublime e o pitoresco se fundissem. Como a cidade babilônica do filme "Intolerância" convivesse com um povoado como o de Ibiapina por aqui no agreste. Gaudi encontrasse Artigas que encontrasse um construtor do século XIII. É uma cidade mágica! Policromática. Etérea. E falo sério! Ela sempre aparece nos meus sonhos! Sábado mesmo sonhei mais uma vez com ela! Esse meu inconsciente e minha vontade de sonhar nunca param! Eu sou danado!

Eus

Hoje tento me conectar com todos os "eu" que teriam sido
Se eu tivesse seguido a carreira de turismo
Se eu tivesse ido morar com meus pais em Fortaleza
Se eu tivesse ficado no Recife
Ou nunca saído de Gravatá
Ou feito aquele curso de RI e hoje estaria na Ásia
Ou ter aceito aquele trabalho voluntário no Quênia
Ter dito sim naquele momento e estaria na Itália
Ou pensado mais antes dos meus impulsos arianos e ter morado em São Paulo
Ou ter comido menos na adolescência
Ou não ter crescido vendo TV
Ou ter esperado mais 2 dias antes de vir ao mundo
São tantos "eus" que estão soltos por aí
Velhos, feios, bonitos, ricos, miseráveis, brilhantes, mesquinhos, derrotados ou vaidosos
Às vezes eles aparecem em sonhos (sim, aparecem)
Uns crianças, outros velhos
E eles sempre, sempre me dizem
Em inglês, francês, espanhol, português
Que este mundo material é passageiro.

teimoso

Eu sou nordestino...e teimoso
Nordestino e teimoso
Nordestino, teimoso, cosmopolita
Eu sou teimoso, assim como muitos nordestinos que vem teimando, antes mesmo dos meus pais nascerem
Se aventurando por essas bandas aqui
Não sou artista, não sou modelo, não sou ator, não sou músico
Não sou o fetiche pernambucano
Sou só mais um...teimoso, que veio pra cá
Eu sou igual aos porteiros,
Às empregadas domésticas,
Às atendentes de caixa,
Aos soldadores,
Aos garis.
Eu sou um teimoso (...)
Um teimoso que incomoda às vezes
Mas sou teimoso

(Proclamei isso em algum dia de 2017 no Rio de Janeiro)

sábado de novembro

Minha avó dorme. Minha tia faz crochê. Meu pai escuta blues. Meu tio assiste o jogo em silêncio. Um homem passa de cavalo. O céu fica laranja. E minha sobrinha dorme. Um ciclo.

ewe

Olhei pela janela alta na madrugada de garoa, pensando na sobrinha e no futuro dessa nova geração, ouvindo essa música e chorei de força e alegria pensando:
Vamos apagar a intolerância com as religiões de matriz africana! Vamos aceitar que a nossa Terra é feminina! Vamos valorizar a vida e a dignidade humana para todos (para todos! Sem rações ou esmolas!) Vamos abrir espaço para arte e vida serem uma só! Vamos horizontalizar a cidade e nossas relações! Vamos esquecer as roupas de marcas importadas, carros do ano e apartamentos no jogo imobiliário especulativo (tudo é tão efêmero!). Vamos sorrir de volta com o coração para os pequenos! Vamos acabar com a fofoca, o rancor e a mesquinhez das coisas materiais! A matéria não é nada! Amorfa, sem vida, perecível! A vida é tão mais complexa e emaranhada e surpreendente que o consumo! Vamos respeitar as diferenças: étnicas, religiosas, de orientação sexual, de gênero! Vamos respeitar O OUTRO! SABER OUVIR! Aprender com as mulheres que tanto trabalharam com os braços e os corações para manterem a nossa vida em tantas gerações! Vamos deixar nossas cidades respirarem! Viver para além das selfies do instagram! E desejar o bem comum, a todos!
É assim que quero viver, até o fim dessa minha vida! Quem quiser me acompanhar, estou aqui!

O que aprendi no Rio

Coisas que aprendi/conheci e reforcei no Rio:
Pedir "água da casa", amar Mate, ver a simplicidade da vida, aprender a economizar e ver promoções de supermercado, estar aberto para conversar com pessoas e universos diferentes, ampliar minhas referências de música de vanguarda, me aprofundar na música brasileira e gringa dos anos 80 e 90, conhecer mais de teoria e arte contemporânea, filosofia da arte, teoria da história, história da arte, ampliar meu olhar para obras de arte e construções, expandir minha cultura pop, desconstruir a ideia de bom ou mau gosto, derrubar os pilares de gênero e sexualidade, conhecer a discografia do Kid Abelha, ouvir e reviver histórias do Rio nos anos 80, mergulhar de cabeça no cinema nacional, me aprofundar nos ensinamentos do espiritismo, me situar politicamente, ponderar e ponderar os discursos, aguçar meu olhar poético para o mundo/para a vida!
Se segura, mundo! To levando essa bagagem toda junto comigo!

Sonho em agosto

Eu tive um sonho..que você era casadx com outrx que já tinha me dado um toco também...vocês moravam juntos numa mansão imensa nas montanhas. Num dia de eclipse total eu me juntei a um grupo de bastardos, coadjuvantes, esquecidos e lunares e fomos na casa de vocês tomar de volta os raios solares que vocês haviam sequestrado. Tudo estava em eclipse, escuridão! Enquanto vocês circulavam pela casa enorme falando sobre coisas que estavam em falta para comprar no supermercado, com seus ares altivos e solares, apolíneos, carnavalescos, fluminenses, hipsters-renascença, cósmicos; nós, como ninjas, sombras, vermes, como molduras, sobras, raspas de tacho, vísceras e reciclos circulávamos pelos cômodos espaçosos da casa, por entre cortinas e tapetes e sofás, sorrateiros, em gestos e movimentos como nas danças da Pina Bausch (havia muita beleza nisso!). Pois assim tomamos os raios de sol. Mas não para nossa posse: "O sol (deve) nasce(r) para todos". Não havia mais eclipse!
Assim funciona meu coração e mente nas inconsciências dos meus sonos. Acordei num súbito e com previsão de chuva.

Sonhos em Julho - II

Dez da noite, enrolado numa toalha, apressado procurando roupas para sair, camisas feitas de colchas e lençóis com estampas da infância. Mãe atenta e sorridente aos meus movimentos me lembra das meias. Barulho nas ruas de amigos. Franceses como hóspedes na minha casa toda com as luzes acesas. Coração disparado em expectativas de algo que está para acontecer. Frio na barriga. Percebo que ainda estou de toalha e as visitas da sala me observam. Vergonha. Encontro a camiseta. Frio na barriga.
Assim acabou de ser um sonho que tive. Acordei para registrar. Volto a dormir. Boa noite

Sonhos - Julho 2017

Hoje tive daqueles sonhos que você não quer mais acordar. Tinha 18 anos, experimentando sensações de primeiro amor. Recém chegado numa cidade sem problemas. Juventude. Beleza. Afetos. Abraços. E aquela luz que não te deixa empalidecer.
Mas aí acordei com frio do lençol que não deu conta, o latido do cachorro e o carro dos pães passando na rua. (Back to life, back to reality)