domingo, março 20, 2011

glorious land


havia desertado de uma guerra que perdera sua própria razão de ser (se é que se pode dar alguma racionalidade a este tipo de manifesto), e resolveu marchar (agora não mais de forma compassada), até suas raízes. os pés, muito bem fincados ao chão, tomava rumos a oeste, e os astros, como num mapa, guiavam sua travessia (mesmo conhecendo aqueles caminhos que já tinham sido abertos pelos braços e máquinas de muitos). na cabeça carregava palavras, ideias, organizadas e que refletiam os impulsos do coração cansado e irregular. o tempo árido cortava sua pele e a visão de colchões de pedras pontuados por pequenos arbustos o atrapalhava e ao mesmo tempo o fazia lembrar da infância, quando na sombra de algum angelim poderia confundir a imponência do sol e imaginar os tempos na costa. e de repente, música! música que lembrava suas origens, e misturada a lembranças mais recentes não permitia que ele relembrasse de tudo que vivera, afinal se tratavam de memórias, que se perdem....fugidias! a música falava de guerras, de desperdícios, dos danos causados, físicos e morais, e de uma terra que não mais existia, romantizada na teia do pensar do compositor e ressignificada na audição do soldado. a vontade de chegar se expandia, e mesmo sabendo que as lembranças seriam entremeadas por novas realidades (se é que assim se pode chamar), isso não o desapontava, mas o encorajava a enfrentar aquelas rotas agrestes. como vento, a música se espalhava, acelerava seus passos, o impelia a correr. E CORRIA! como se não houvesse obstáculo que o freasse, corria em direção a novas batalhas, pois sabia que não era o fim. mas agora essas disputas teriam uma finalidade, uma meta, não perderiam a razão de ser tal qual aconteceu com as lutas no litoral. e assim que chegasse ao destino pretendido, retornaria com reforços, carregando estandartes de batalha, representando montanhas e pintados em três cores, e o cortejo seria coduzido por uma banda marcial, mas diferente de todas aquelas já catalogadas, que liberariam versos a dizer "to the glorius land, to the glorious land". e liderando essa unidade, estaria o soldado, prestes a enfrentar uma nova ameaça, usando armas muito bem planejadas a que chamou de amor. e qual seria essa ameaça? muitos podem perguntar...esta possuía a mesma natureza das armas que estavam por ser empunhadas.

quinta-feira, março 17, 2011

Let England Shake e o estado de emergência


Eu realmente tenho uma inclinação pra músicos experientes! Todo artista, no começo de suas criações, é muito levado pela euforia, ansiedades, pressa, e tudo é novo, fascinante, explosivo. Basta lembrar de artistas como Björk, Thom Yorke, Chan Marshall...E isso não é ruim, o espaço pra criatividade é vasto, e percebe-se muito barulho, movimento, cores. Mas aí os anos passam, os conhecimentos se expandem, as relações com outros artistas também, e as visões e interpretações daquilo que chamam de real, transformam-se, e os artistas começam a dar um novo rumo aos seus trabalhos, sem perder uma identidade construída ao longo de anos (nesse caso, eu me refiro aos bons artistas, claro). Com a inglesa Polly Jean Harvey o processo foi o mesmo, aos 41 anos ela conseguiu criar um disco cheio de experimentações e sem perder os elementos que a caracterizam como uma artista de trabalho denso, rasgado e sempre soando novo. O Let England Shake é consistente, maduro, um reflexo da própria PJ.E esse trabalho automaticamente já me fez pensar que é o melhor disco de 2011 (desculpem Radiohead e Björk), mas esse álbum é visceral, um disco de GUERRA, exatamente isso, de Guerra! É como se o indivíduo estivesse numa guerra, sozinho, contra o mundo inteiro, e por mais que as investidas contra ele sejam pesadas, ele não recua, e continua no campo de batalha, munido apenas de suas lembranças e de sua TERRA! Mais confessional que isso e tendo relações com a minha vida, impossível! Comparado a ele, somente o Homogenic de Björk!