terça-feira, outubro 11, 2011

Maude e os girassóis

Faz um tempo que decidi escrever algo sobre um dos meus filmes preferidos, daqueles que você acaba vendo num momento de distúrbios (vide crises existenciais aos 17 anos), e que consegue modificar algumas tonalidades da sua vida. Lembro bem dessa madrugada, quando ainda estava na minha antiga casa em Gravatá em temporada de férias. Diante de um estado de insônia a me empurrar para a  vigília em frente à TV, anunciava-se a próxima atração dublada: a película "Ensina-me a viver".

Poster de 1978


Com o título original de "Harold and Maude", o filme foi lançado em 1971 nos Estados Unidos, destacando em suas narrativas muitos dos reflexos da sociedade americana na época, cujo país, governado por Nixon, se encontrava no auge da guerra vietnamita.

O roteito está centrado na história de seus protagonistas. Harold é um garoto de classe média alta, residente em São Francisco, cuja mãe superprotetora e moralista o enfadonha por diversas vezes, tornando-o um sujeito cheio de excentricidades; dentre elas a fixação por simulações de suicídio e temáticas fúnebres no melhor do humor negro. Para ele, sua vida é um tédio.


Harold (Personagem de Bud Cort)




Maude (Ruth Gordon)

Maude é o contrapeso, uma senhora prestes a completar 80 anos, estrangeira, amante das artes, dos cheiros, das cores e com uma vontade excessiva de viver, reafirmada nas suas idas a funerais de anônimos. E  é  num desses eventos distintos, apreciados também pelo rapaz, que Harold e Maude se conhecem.

O encontro


A partir de então, a amizade desses dois sujeitos tão opostos vai tomando formas e sentidos maiores, a culminar na máxima dos sentimentos afetivos, unindo-os em suas vontades de contra-corrente.

A temática proposta pelo filme é bem desenvolvida ao longo de sua projeção, disposta a nos apresentar o esvaziamento de sentido da juventude da época, alienada e pessimista (representada na figura de Harold), diante de uma guerra sem perspectivas, quando as razões de ser do conflito se perdiam em explicações difusas.



Neste momento, surge Maude (interpretada fabulosamente por Ruth Gordon), uma antítese de Harold. A partir de uma amizade sincera, colorida pela belíssima trilha sonora do cantor "pós hippie" Cat Stevens, Maude irá apresentar ao personagem entediado as ricas possibilidades de uma vida, experimentadas por uma personagem que vivera os horrores da segunda guerra, e desde então tem buscado respostas e sentidos a cada nascer do dia.



O filme exibe diversas passagens humoradas, banhadas em críticas à sociedade da época, militarista com Nixon e moralista na figura do papa João VI. Destaque para as cenas das consultas de Harold, suas simulações de suicídio e o clássico episódio da árvore.



Sem grandes sucessos de bilheterias na época, o filme atualmente é uma sensação das rodinhas cult; talvez por sua trilha sonora, ou pelas referências às paisagens de uma São Francisco da década de 1970 (onde fãs do filme ainda visitam as locações), ou ainda das atuações primorosas de Ruth Gordon (O Bebê de Rosemary) e Bud Cort.

Capa do disco com a trilha sonora


Cultuada ou não, esta obra conseguiu por muito a minha simpatia há quase 10 anos atrás, sendo até hoje um dos meus favoritos da lista e sempre inspirador.


Achei esse trailer, acompanhado de uma música da trilha, por Cat Stevens! Muito bom!

P.S. Dedico essa postagem à Renatinha que também é fã desse filme!

segunda-feira, outubro 10, 2011

música pop

Desta vez "resolvi fazer algo de diferente", e fiz um video, apresentando algumas considerações minhas sobre música e cultura pop.

Enjoy it (or not)

domingo, outubro 09, 2011

sobre amizade e outras perguntas

"Amizade (do latim amicus; amigo, que possivelmente se derivou de amore; amar, ainda que se diga também que a palavra provém do grego) é uma relação afetiva, a princípio, sem características romântico-sexuais, entre duas pessoas."

Definição redondinha, da nova mãe do conhecimento enciclopédico digital e dos amantes da pesquisa barata, Wikipedia.


Representação do "Thanksgiving day", símbolo da legítima "amizade" (muitas aspas) entre povos no Novo Mundo


Sem a intenção de encerrar num conceito, o enunciado das primeiras linhas do referido artigo nem escapa, num primeiro instante, de uma concepção compartilhada por muitos.

Que o termo "amigo" encontra desdobramentos no latino "amore", disso qualquer estudante já estaria farto de saber (vide as aulas sobre literatura "arcaica" portuguesa e as velhas canções de amigo tão recorrentes na corte).


D'Artagnan e os Três Mosqueteiros por Maurice Leloir (Máxima do símbolo de amizade na ficção)


Relação afetiva? Decerto que sim. A amizade pressupõe uma aproximação, experiências compartilhadas, correspondência, atitudes recíprocas quase que pré-determinadas pela sociedade. Mas nem sempre!

Por vezes ouço pessoas comentarem: "Preciso de mais amigos!"; porém, numa rápida reflexão, será que essa necessidade não precisa ser revista? Multiplicações e adições? 900 "amigos" no facebook? Humanamente impossível.

O já clássico "Thelma and Louise" (1991)


Ao invés de considerar o verbo "fazer", associado à amizade, que assume um caráter de exercício, quase de ofício, de obrigação social e trabalho, prefiro pensar amizade como o espontâneo, onde o sujeito nunca consegue explicar quando aquela relação começou e por que. Amizade, no seu sentido mais maiúsculo, é menos uma prática que um impulso da natureza. Então, quanto amigos você "fez" na festa de ontem?

Não há moldes ou encaixes para amigos (assim como também não deveria existir para qualquer relação a envolver afeto). A fórmula do "mudar para agradar" recai na mesma história do ofício, da obrigação para se ter alguém do lado, e isso, nem a milhas pode ser considerado amizade.

Assim como qualquer relação, a vivência "entre amigos" é revestida dos chamados defeitos, manias, contratempos, desentendimentos, preconceitos e tantas outras condições que considero mais humanas do que faltas graves ou absurdos, previsivelmente passíveis a mudanças.

Um "Thanksgiving" mais sincero do Charlie Brown


Longe de qualquer conselho de auto ajuda, não há chave para o sucesso na amizade. Assim como qualquer fenômeno natural, ele se transforma, evolui, se expande, se retrai, rejeita, aproxima. Porém, quando de fato se trata de amigos, a natureza sempre tende a sustentar, livre de rotinas e mesmo com distâncias (físicas ou temporais). É por isso que não acredito na palavra "ex-amigo". Aliás, esse prefixo "ex" não se encaixa sinceramente em nada!

Mais o "estar" que o "ter" amigos, experiência primeira estimulante, que revigora esses indivíduos, longe de conseguirem manter a solidão.

(dedico essa postagem aos meus amigos, que não precisam do acompanhamento "verdadeiros" ou "melhores" e também aos futuros que possam surgir na espontaneidade)

the butcher (ou conto rápido) ou alegorias

beleza. milhas. pavimento. edifícios ocos. vento. lama. explosões. olhos. intervalo. selvas em coro. escuro. criatura. criaturas. criações. crenças e credos. medo. sorrisos. artilharia. cavalos. orações. lágrimas. sussurros. esperança. símbolo. leões. raízes. reverberações. fome.






beauty - destroy - mind- gory - gift - man - lonely

confused
butcher
nothing


position - worms
through my heart
my brain



MY HEART STILL PUMPING


W
          
            A


R



            R


I


      O
                                             R

quinta-feira, outubro 06, 2011

"De Amore"

Clichê? Dor de Cotovelo? Estágio para revista de trivialidades ou excesso afetivo? Nem isso nem aquilo. Resolvi tecer em poucas linhas tudo aquilo que estaria ao meu alcance sobre a temática "Amor", com base nas minhas observações (nada científicas), experiências, histórias e mesmo nas teorias e na arte, sem a pretensão de conceituar nada (que fique bem claro!)

Representação do amor cortês medievo


Não vou falar de amor cristão, nem muito menos de amor de família, amor de amigo e todos esses desdobramentos do amor que partem, acredito, dessa perspectiva cristã/burguesa. Falarei de amor banal mesmo, desses de novela da Globo.

Representação do amor cortês medievo


Numa feiosa tentativa de partir de um princípio, começo percebendo a natureza humana, de animal, egoísta, dotado de uma vontade de poder, de satisfação plena de seus desejos a qualquer preço, e de uma pré-condição do imediato. Nessa brincadeira já bati um papo com Nietzsche, Freud, Benjamin, Proust e Sue Johanson (pra quem não conhece, é uma senhora "sexóloga", apresentadora do programa "Talk sex with Sue", veiculado aqui no Brasil no canal GNT).

Representação do amor cortês medievo


Animal enquanto tal, nem de longe, o homem (em seu sentido de natureza, não de gênero) é monogâmico. Mais aí vem as relações sociais, a cultura, o Estado, a (s) religião (oes) e toda sua moral e imprime ao longo das eras na cabeça dos seres pertencentes ao mundo dito ocidental (vide, pós Anno Domini), que família (constituída de um casal, apto a reprodução de filhos) firmada sob contratos, seria o motor e sustentáculo da sociedade. Se nesse quadro existir  "aquele amor", melhor ainda! Pois acredito que muitos já estão azuis de saber que muitos casamentos ao longo da história da humanidade são mais relações de fato contratuais, do que uniões carregadas de juras de amor eterno. (Vide as histórias das cortes reais e de muitos casamentos que vocês mesmo já prestigiaram).

Representação do amor cortês medievo


OK, não vim aqui para pregar nenhum manifesto de liberação sexual, nem gritar para que todos sejam poligâmicos. E ainda nesse momento, alguém a ler essas minhas baboseiras pode se perguntar: "O que esses parágrafos acima têm a ver com a sua temática inicial?" Ora, respondo que a relação entre eles é mais que legítima. Pois é neste contexto do casal (da família), que o amor (numa concepção mais burguesa) deveria se encaixar. Um amor que nasce lá dos valores do romantismo e que arrasta uma asinha pro chamado "amor? carnal", porque ninguém é de ferro.

Tela de Tristão e Isolda


Mas e o amor cortês medieval? Platônico, do lugar comum de Camões (desculpem os letrados), onde o contato físico não existia praticamente, e o cavaleiro poderia satisfazer todas as suas necessidades com as moças das vilas e aldeias, mas não com a dama da corte? Não é esse o amor (de fato), que vai se desdobrar desse período, sendo retomado pelos poetas e prosadores românticos dos séculos XVIII e XIX? Mas é justamente aí que entra a história do homem enquanto ser sedento de desejos (e mais uma vez não falo de homem, o gênero), e desse amor precisar de uns "ajustes".

Cena de Bonnie and Clyde (1967)


A partir disso, acredito então que surge essa ideia de amor mais banal que conhecemos nos dias de hoje, de uma tentativa frustrada de unir gestos de submissão cortês com os prazeres da carne (que é fraca). E é nesse ponto que surge o grande problema. Expectativas, frustrações, mundos girando em torno de alguém, dependências e ainda por cima, com tudo OK! entre quatro paredes.

Grunges "in love"


Seria culpa dos contos de fadas? Das grandes esperanças que alguns pobres miseráveis põem a partir dessas narrativas? Sejam elas presentes nos velhos livros ou nas telas de cinema?

E no meio desse clima caótico, quase de apocalipse, em denúncia a esse amor tão desejado pelos leitores de romances de folhetim, que aponto a minha noção (rasa) sobre o amor mas que já me quebra um galho. O amor, muito mais enquanto companheirismo, do que dessa torrente de sentimentos destrutiva e avassaladora!


PJ Harvey - Nick Cave

É claro que química é importante, que de repente, gostos parecidos também ajudem (apesar de não serem imprescindíveis, a meu ver), sintonias e blá blá blá. Mas se não houver companheirismo ou sinceridade, nada feito!

O que mais observo hoje em dia é uma verdadeira proliferação de status de namoro nas redes sociais. Legal, felicitações e etc. Mas também até que ponto existe de fato uma relação sincera, ou não passa mais de um "Olha só, sociedade! Tenho amigos, sou bem sucedido e ainda namoro!". Namoro como moda é muito teenager, hein! Vamos rever isso aí.

Harold and Maude


"Amor e amizade coexistem? Mas já não temos nossos amigos?". Olha, sinceramente não acredito muito nisso, porque um namoro unido só pelo desejo, é o mesmo que fazer sexo com uma porta. Ter alguém como companheiro (a) é no mínimo importante e ainda resolve aquele mal estar da tentativa frustrada do amor banal, um amor sem desesperos nem inseguranças.


Birkin - Gainsbourg

Portanto sem essa de morrer de amores, de "Oh, estou sozinho!", e muito menos de cair no primeiro enlace só pra suprir carência. (Bom, não vou continuar essa última ideia, porque isso sim é um clichê mais do que divulgado nos powerpoints brilhantes dos e-mails virais).

Cena do Clipe All is Full of Love - Björk