a duração que teve para ela se levantar da cama, olhar a lua bem em sua cara, por os pés quebrados no chão, vestir a seda que fedia a mofo, se arrastar até a porta, olhar para trás, tomar a garrafa cheia e atirar na janela foi bem rápida.
do corredor até a sala foram dois cigarros acesos sucessivamente enquanto a fumaça ofuscava a luz amarela do recinto vazio.
os pés quebrados e também sujos iam se arrastando fazendo um barulho irritante que rachou um dos copos verdes guardados na cristaleira velha.
a sala sim que parecia ter uma distância absurda e uma duração de chegada entediante.
ela sacou o encardido batom do bolso e pintou a cara, de baixo a cima, cor de carmim.
os olhos já doíam e o nariz tentava captar filas de ar.
e se arrastava, até que antes que caisse morta no chão alcançou a sala.
foi tudo bem breve.
pegou a taça de conhaque,
molhou a boca,
apagou os cigarros na parede vermelha e nova, e se dirigiu ao pé da janela
olhou para a lua mais uma vez que agora não mais brilhava em sua cara como antes
balbuciou as três palavras que achava que um dia poderia tê-las dito com toda a certeza do mundo
e se atirou ao nada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário