Era curioso, porque experimentei modos de sociabilidades e hábitos numa cidade que na época oscilava entre uma vida "rural" e urbana. A linha de separação entre esses "universos" era tênue.
Missa aos domingos de manhã seguida por aquele sorvete e episódio de Street Fighter no SBT. Idas a rezadeiras (uma delas morava na minha rua, numa casa tão pequena que me perguntava como ela conseguia), feiras no sábado com boa parte da população rural no núcleo urbano, mercearia na esquina de casa com aquele pão sisudo e simples mas gostoso, carrinhos feitos de lata de óleo, bois de barro, brinquedos da estrela (tinha poucos), vendedor de quebra-queixo (ou doce japonês), cocada. Fim de semana no parquinho com roda-gigante, confeitos no canudo de papel. Ausência de internet. Videogame mas por dentro das novidades apenas do que vinha nas revistas selecionadas pelos jornaleiros. Cabines telefônicas na rua do lado que minha mãe usava para ligar pra minha tia aqui do Rio. Criação de galinhas. Forno a lenha e moedor de cana na casa da minha avó (sem esquecer o processo de fazer castanha de caju, torrado naquelas latas de querosene). Cansei de ver minha vó fazendo queijo, abrindo e depenando galinha e explicando os órgãos do bicho. Ao mesmo tempo eu brincava na enciclopédia de 1995 no computador, e aprendia inglês no programa em CD-Rom que vinha de bônus (junto aos jogos em primeira pessoa que eram a sensação da época. Pelo menos era o que eu achava). Brincadeiras na rua, descalço. Dias e dias no sítio do meu avó (que nem era uma região exótica, mas sim uma quase extensão de nossos quintais, onde no meu cresciam pés de goiaba, seriguela, carambola, acerola, junto às galinhas de estimação minha e da irmã - lembro delas até hoje). Custei a tomar leite direto da vaca, retirado ali na hora, mas quando provei com achocolatado, adorei (garoto mimado).
De certa forma me sinto privilegiado por essas vivências, que só
fortaleceram minha personalidade e meu instinto cosmopolita. Às vezes
fico romântico e penso até em voltar a viver assim. Mas não é mais
possível. Adoro os movimentos das grandes cidades, o borbulhar, o
buxixo, a música urbana não me entedia nunca. Já estava achando até
Recife pequena!
Não quero voltar (e isso não se trata de uma afirmação de desdém a um passado que estimo tanto e que acalenta meu coração naqueles momentos de reflexão solitária). Apenas saber que tudo aquilo ainda está ali (agora pintado de outras formas), e reproduzido milhares de vezes na minha mente e coração, já me conforta!
O passado é um repouso, não uma doença febril. Sentindo dessa forma, ele me impulsiona para todos os lados, através dos meus fragmentos de recordação.
Não quero voltar (e isso não se trata de uma afirmação de desdém a um passado que estimo tanto e que acalenta meu coração naqueles momentos de reflexão solitária). Apenas saber que tudo aquilo ainda está ali (agora pintado de outras formas), e reproduzido milhares de vezes na minha mente e coração, já me conforta!
O passado é um repouso, não uma doença febril. Sentindo dessa forma, ele me impulsiona para todos os lados, através dos meus fragmentos de recordação.
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