Tem sido um sonho recorrente, sempre sonho que estou numa cidade que
não existe. Ela fica no agreste, às vezes chamam ela de Amaraji, ou
Passira ou Agrestina (nomes de cidades que existem), mas a do meu sonho é
diferente. Às vezes estou nela sozinho, ou com amigos, ou com
familiares. É uma cidade utópica, eu diria. Não há diferenças sociais
(como a cidade de William Morris), não há instituições opressoras, não
há fome. E a arquitetura? Bem, a arquitetura é o que mais me deixa
extasiado, é sempre um prazer ter esse sonho! Parece que algum
mecanismo no meu inconsciente é ativado e me avisa: "mais uma vez esse
sonho? E aí?"
Essa cidade
utópica...como eu poderia descrever essa arquitetura? É como se o
familiar e o monumental fossem um só! O sublime e o pitoresco se
fundissem. Como a cidade babilônica do filme "Intolerância" convivesse
com um povoado como o de Ibiapina por aqui no agreste. Gaudi encontrasse
Artigas que encontrasse um construtor do século XIII. É uma cidade
mágica! Policromática. Etérea. E falo sério! Ela sempre aparece nos meus
sonhos! Sábado mesmo sonhei mais uma vez com ela! Esse meu inconsciente
e minha vontade de sonhar nunca param! Eu sou danado!

terça-feira, novembro 14, 2017
Eus
Hoje tento me conectar com todos os "eu" que teriam sido
Se eu tivesse seguido a carreira de turismo
Se eu tivesse ido morar com meus pais em Fortaleza
Se eu tivesse ficado no Recife
Ou nunca saído de Gravatá
Ou feito aquele curso de RI e hoje estaria na Ásia
Ou ter aceito aquele trabalho voluntário no Quênia
Ter dito sim naquele momento e estaria na Itália
Ou pensado mais antes dos meus impulsos arianos e ter morado em São Paulo
Ou ter comido menos na adolescência
Ou não ter crescido vendo TV
Ou ter esperado mais 2 dias antes de vir ao mundo
São tantos "eus" que estão soltos por aí
Velhos, feios, bonitos, ricos, miseráveis, brilhantes, mesquinhos, derrotados ou vaidosos
Às vezes eles aparecem em sonhos (sim, aparecem)
Uns crianças, outros velhos
E eles sempre, sempre me dizem
Em inglês, francês, espanhol, português
Que este mundo material é passageiro.
Se eu tivesse seguido a carreira de turismo
Se eu tivesse ido morar com meus pais em Fortaleza
Se eu tivesse ficado no Recife
Ou nunca saído de Gravatá
Ou feito aquele curso de RI e hoje estaria na Ásia
Ou ter aceito aquele trabalho voluntário no Quênia
Ter dito sim naquele momento e estaria na Itália
Ou pensado mais antes dos meus impulsos arianos e ter morado em São Paulo
Ou ter comido menos na adolescência
Ou não ter crescido vendo TV
Ou ter esperado mais 2 dias antes de vir ao mundo
São tantos "eus" que estão soltos por aí
Velhos, feios, bonitos, ricos, miseráveis, brilhantes, mesquinhos, derrotados ou vaidosos
Às vezes eles aparecem em sonhos (sim, aparecem)
Uns crianças, outros velhos
E eles sempre, sempre me dizem
Em inglês, francês, espanhol, português
Que este mundo material é passageiro.
teimoso
Eu sou nordestino...e teimoso
Nordestino e teimoso
Nordestino, teimoso, cosmopolita
Eu sou teimoso, assim como muitos nordestinos que vem teimando, antes mesmo dos meus pais nascerem
Se aventurando por essas bandas aqui
Não sou artista, não sou modelo, não sou ator, não sou músico
Não sou o fetiche pernambucano
Sou só mais um...teimoso, que veio pra cá
Eu sou igual aos porteiros,
Às empregadas domésticas,
Às atendentes de caixa,
Aos soldadores,
Aos garis.
Eu sou um teimoso (...)
Um teimoso que incomoda às vezes
Mas sou teimoso
Nordestino e teimoso
Nordestino, teimoso, cosmopolita
Eu sou teimoso, assim como muitos nordestinos que vem teimando, antes mesmo dos meus pais nascerem
Se aventurando por essas bandas aqui
Não sou artista, não sou modelo, não sou ator, não sou músico
Não sou o fetiche pernambucano
Sou só mais um...teimoso, que veio pra cá
Eu sou igual aos porteiros,
Às empregadas domésticas,
Às atendentes de caixa,
Aos soldadores,
Aos garis.
Eu sou um teimoso (...)
Um teimoso que incomoda às vezes
Mas sou teimoso
(Proclamei isso em algum dia de 2017 no Rio de Janeiro)
sábado de novembro
Minha
avó dorme. Minha tia faz crochê. Meu pai escuta blues. Meu tio assiste o
jogo em silêncio. Um homem passa de cavalo. O céu fica laranja. E minha
sobrinha dorme. Um ciclo.
ewe
Olhei pela janela alta na madrugada de garoa, pensando na sobrinha e
no futuro dessa nova geração, ouvindo essa música e chorei de força e
alegria pensando:
Vamos apagar a intolerância com as religiões de matriz africana! Vamos aceitar que a nossa Terra é feminina! Vamos valorizar a vida e a dignidade humana para todos (para todos! Sem rações ou esmolas!) Vamos abrir espaço para arte e vida serem uma só! Vamos horizontalizar a cidade e nossas relações! Vamos esquecer as roupas de marcas importadas, carros do ano e apartamentos no jogo imobiliário especulativo (tudo é tão efêmero!). Vamos sorrir de volta com o coração para os pequenos! Vamos acabar com a fofoca, o rancor e a mesquinhez das coisas materiais! A matéria não é nada! Amorfa, sem vida, perecível! A vida é tão mais complexa e emaranhada e surpreendente que o consumo! Vamos respeitar as diferenças: étnicas, religiosas, de orientação sexual, de gênero! Vamos respeitar O OUTRO! SABER OUVIR! Aprender com as mulheres que tanto trabalharam com os braços e os corações para manterem a nossa vida em tantas gerações! Vamos deixar nossas cidades respirarem! Viver para além das selfies do instagram! E desejar o bem comum, a todos!
Vamos apagar a intolerância com as religiões de matriz africana! Vamos aceitar que a nossa Terra é feminina! Vamos valorizar a vida e a dignidade humana para todos (para todos! Sem rações ou esmolas!) Vamos abrir espaço para arte e vida serem uma só! Vamos horizontalizar a cidade e nossas relações! Vamos esquecer as roupas de marcas importadas, carros do ano e apartamentos no jogo imobiliário especulativo (tudo é tão efêmero!). Vamos sorrir de volta com o coração para os pequenos! Vamos acabar com a fofoca, o rancor e a mesquinhez das coisas materiais! A matéria não é nada! Amorfa, sem vida, perecível! A vida é tão mais complexa e emaranhada e surpreendente que o consumo! Vamos respeitar as diferenças: étnicas, religiosas, de orientação sexual, de gênero! Vamos respeitar O OUTRO! SABER OUVIR! Aprender com as mulheres que tanto trabalharam com os braços e os corações para manterem a nossa vida em tantas gerações! Vamos deixar nossas cidades respirarem! Viver para além das selfies do instagram! E desejar o bem comum, a todos!
É assim que quero viver, até o fim dessa minha vida! Quem quiser me acompanhar, estou aqui!
O que aprendi no Rio
Coisas que aprendi/conheci e reforcei no Rio:
Pedir "água da casa", amar Mate, ver a simplicidade da vida, aprender a economizar e ver promoções de supermercado, estar aberto para conversar com pessoas e universos diferentes, ampliar minhas referências de música de vanguarda, me aprofundar na música brasileira e gringa dos anos 80 e 90, conhecer mais de teoria e arte contemporânea, filosofia da arte, teoria da história, história da arte, ampliar meu olhar para obras de arte e construções, expandir minha cultura pop, desconstruir a ideia de bom ou mau gosto, derrubar os pilares de gênero e sexualidade, conhecer a discografia do Kid Abelha, ouvir e reviver histórias do Rio nos anos 80, mergulhar de cabeça no cinema nacional, me aprofundar nos ensinamentos do espiritismo, me situar politicamente, ponderar e ponderar os discursos, aguçar meu olhar poético para o mundo/para a vida!
Se segura, mundo! To levando essa bagagem toda junto comigo!
Pedir "água da casa", amar Mate, ver a simplicidade da vida, aprender a economizar e ver promoções de supermercado, estar aberto para conversar com pessoas e universos diferentes, ampliar minhas referências de música de vanguarda, me aprofundar na música brasileira e gringa dos anos 80 e 90, conhecer mais de teoria e arte contemporânea, filosofia da arte, teoria da história, história da arte, ampliar meu olhar para obras de arte e construções, expandir minha cultura pop, desconstruir a ideia de bom ou mau gosto, derrubar os pilares de gênero e sexualidade, conhecer a discografia do Kid Abelha, ouvir e reviver histórias do Rio nos anos 80, mergulhar de cabeça no cinema nacional, me aprofundar nos ensinamentos do espiritismo, me situar politicamente, ponderar e ponderar os discursos, aguçar meu olhar poético para o mundo/para a vida!
Se segura, mundo! To levando essa bagagem toda junto comigo!
Sonho em agosto
Eu tive um sonho..que você era casadx com outrx que já tinha me dado
um toco também...vocês moravam juntos numa mansão imensa nas montanhas.
Num dia de eclipse total eu me juntei a um grupo de bastardos,
coadjuvantes, esquecidos e lunares e fomos na casa de vocês tomar de
volta os raios solares que vocês haviam sequestrado. Tudo estava em
eclipse, escuridão! Enquanto vocês circulavam pela casa enorme falando
sobre coisas que estavam em falta para comprar no supermercado, com seus
ares altivos e solares, apolíneos, carnavalescos, fluminenses,
hipsters-renascença, cósmicos; nós, como ninjas, sombras, vermes, como
molduras, sobras, raspas de tacho, vísceras e reciclos circulávamos
pelos cômodos espaçosos da casa, por entre cortinas e tapetes e sofás,
sorrateiros, em gestos e movimentos como nas danças da Pina Bausch
(havia muita beleza nisso!). Pois assim tomamos os raios de sol. Mas não
para nossa posse: "O sol (deve) nasce(r) para todos". Não havia mais
eclipse!
Assim funciona meu coração e mente nas inconsciências dos meus sonos. Acordei num súbito e com previsão de chuva.
Sonhos em Julho - II
Dez
da noite, enrolado numa toalha, apressado procurando roupas para sair,
camisas feitas de colchas e lençóis com estampas da infância. Mãe atenta
e sorridente aos meus movimentos me lembra das meias. Barulho nas ruas
de amigos. Franceses como hóspedes na minha casa toda com as luzes
acesas. Coração disparado em expectativas de algo que está para
acontecer. Frio na barriga. Percebo que ainda estou de toalha e as
visitas da sala me observam. Vergonha. Encontro a camiseta. Frio na
barriga.
Assim acabou de ser um sonho que tive. Acordei para registrar. Volto a dormir. Boa noite
Assim acabou de ser um sonho que tive. Acordei para registrar. Volto a dormir. Boa noite
Sonhos - Julho 2017
Hoje
tive daqueles sonhos que você não quer mais acordar. Tinha 18 anos,
experimentando sensações de primeiro amor. Recém chegado numa cidade sem
problemas. Juventude. Beleza. Afetos. Abraços. E aquela luz que não te
deixa empalidecer.
Mas aí acordei com frio do lençol que não deu conta, o latido do cachorro e o carro dos pães passando na rua. (Back to life, back to reality)
Mas aí acordei com frio do lençol que não deu conta, o latido do cachorro e o carro dos pães passando na rua. (Back to life, back to reality)
domingo, abril 30, 2017
O ovo cósmico de Hildegard de Bingen
Ilustração "O ovo cósmico ardente" por Hildegard von Bingen, presente no manuscrito "Scivias" (século XII)
Hildegard von Bingen foi uma monja beneditina que viveu entre os séculos XI e XII numa região onde hoje seria a Alemanha. A ilustração acima é fruto de uma das cosmovisões místicas de Hildegard, revelando interpretações acerca do firmamento e da existência no mundo terreno.
O "ovo cósmico" envolto em chamas, apresenta no topo a figura da estrela do Sol, acompanhado por três estrelas menores (provavelmente os planetas conhecidos de Marte, Júpiter e Saturno). Na camada mais adentro, pilhas de granizo a emitirem como línguas de raios. A figura dentro dessa moldura assemelha-se a um formato de amêndoa repleto de estrelas douradas, a Lua e duas estrelas vermelhas (provavelmente Mercúrio e Vênus). Indo mais para o centro da ilustração, encontramos dez espécies de montes verdes seguidos por uma camada violeta de linhas aninhadas como um novelo, assim como uma camada azul-claro que pode corresponder à nossa atmosfera. No centro dessa espécie de mandala, encontramos o que Hildegard chamava de "globo arenoso de grande magnitude" (a Terra), com uma espécie de rio (mar) que a atravessa na ilustração. Cada camada possui também uma fonte específica de vento, representada por uma forma tri-facial.
Hildegard von Bingen foi uma monja beneditina que viveu entre os séculos XI e XII numa região onde hoje seria a Alemanha. A ilustração acima é fruto de uma das cosmovisões místicas de Hildegard, revelando interpretações acerca do firmamento e da existência no mundo terreno.
O "ovo cósmico" envolto em chamas, apresenta no topo a figura da estrela do Sol, acompanhado por três estrelas menores (provavelmente os planetas conhecidos de Marte, Júpiter e Saturno). Na camada mais adentro, pilhas de granizo a emitirem como línguas de raios. A figura dentro dessa moldura assemelha-se a um formato de amêndoa repleto de estrelas douradas, a Lua e duas estrelas vermelhas (provavelmente Mercúrio e Vênus). Indo mais para o centro da ilustração, encontramos dez espécies de montes verdes seguidos por uma camada violeta de linhas aninhadas como um novelo, assim como uma camada azul-claro que pode corresponder à nossa atmosfera. No centro dessa espécie de mandala, encontramos o que Hildegard chamava de "globo arenoso de grande magnitude" (a Terra), com uma espécie de rio (mar) que a atravessa na ilustração. Cada camada possui também uma fonte específica de vento, representada por uma forma tri-facial.
Hildegard comparava Deus a um ovo cósmico que ardia em chamas no
Universo, esvaziando-se e preenchendo-se como um útero, a alimentar toda
a vida presente nele. Um sagrado feminino como Amor Divino, a essência
do Universo, a força flamejante a queimar no sol, na lua, nas estrelas
movendo tudo para uma existência e trazendo toda vida a brilhar com essa
luz.
Aqui refletindo, concluo: Hildegard trouxe à tona o feminino como a essência da vida, da existência, do universo. Por que ainda as sociedades ocidentais insistem na diminuição desse mesmo feminino? (Para reflexão!)
Aqui refletindo, concluo: Hildegard trouxe à tona o feminino como a essência da vida, da existência, do universo. Por que ainda as sociedades ocidentais insistem na diminuição desse mesmo feminino? (Para reflexão!)
Horace Walpole
Literato, antiquário e historiador da arte, Horace Walpole viveu no
século XVIII na Inglaterra e foi um entusiasta da arte gótica, naquela
época ainda considerada uma arte grotesca, estranha (já que a referência
de ARTE seriam as produções da ordem greco-romana). Na contramão
daquilo que seria o padrão da época, Walpole explorou as possibilidades
do gótico na arquitetura, na literatura, no mobiliário. Seu jeito
afeminado e gosto por uma estética que não seria considerada tão viril
como a do Homem Vitruviano (o cânone das proporções humanas), mas antes
uma arte "diferente" o aproximou de um arquétipo de "queer" (uma palavra
inglesa que nos séculos 16 e 17 significaria algo como "estranho",
peculiar", "excêntrico"), uma referência a algo ou alguém que fosse
considerado um desvio do padrão!
a visão
Entre os séculos XIII e XIV na Europa, o sentido da visão humana era
compreendido de uma maneira bastante peculiar. Já se acreditava na época
que o enxergar não terminava apenas no olho. No cérebro humano, haveria
uma espécie de sistema formado por cinco regiões que processariam a
visão. O filósofo persa Avicenna (980-1037) apresentou um esquema do
cérebro onde o olhar humano percorria. Primeiro seria a área do "senso
comum" onde se apreendia as aparências das coisas; depois,
a célula da imaginação (ou ymaginatio vel formalis) que retinha as
formas percebidas; em seguida a "estimativa" era responsável em julgar
essas percepções; seguida pela "cogitativa" responsável por combinar
imagens e possibilitar a imaginação de seres e coisas fantásticas; e por
último, na região posterior da cabeça estaria o "armazém" da memória
(vis memorativa), havendo em sua abertura o "verme do cerebelo" que se
abria para deixar as imagens entrarem na memória.
Apesar das ciências modernas terem posteriormente refutado essas
interpretações, eu considero de uma riqueza extraordinária muitas das
visões de mundo que sociedades anteriores à nossa construíam!
Significados mágicos e simpatias se perdem nesse nosso mundo que se
obriga a racionalizar tudo, tornando a existência cinza e muitas vezes
enfadonha. Sejamos um pouco mágicos sempre! Não deixo de acreditar em
astrologia, nas rezadeiras, nas mudanças de tempo e humores, mau-olhado,
circulação de energias, força de pensamento, previsões. A vida é muito
mais matizada assim!
Na gravura: O diagrama de Avicenna, datado em c. 1300. Obs: Reparem no "verme" localizado na entra da câmara da memória!
Na gravura: O diagrama de Avicenna, datado em c. 1300. Obs: Reparem no "verme" localizado na entra da câmara da memória!
sonho
Eu
acho que há uma força, uma projeção de vidas passadas, uma confluência
de energias para que eu continue no Rio de Janeiro! E o que mais
evidencia isso são os meus sonhos! Sonhei essa semana que morava numa
casa semelhante à casa da minha avó em Gravatá, só que era uma casa mais
"vintage" com uma coisa meio tropical neovitoriano, e a casa parecia
estar situada num tempo de primeiras décadas do século XX,
resplandecente e com a varanda de cara para o Corcovado! Que sonho
lindo! E meus pais estavam na casa e me diziam "esse é seu lar!"
Bem...com sonhos emaranhados assim em espaço-tempo-afetividades não se
brinca!
tinder
Onde
estão os espaços físicos de sociabilidade? As horas marcadas e o
compromisso de não cancelar encontros meia hora antes? O tête à tête e
as conversas acaloradas numa mesa de bar? Livre da síndrome do "ah,
achei interessante, mas o próximo da fila sempre será mais"....
coração
Tenho um coração vasto. Mas que não se coloca intrometido. Ele pede
licença, bate antes de entrar, traz consigo um agrado antes mesmo de
puxar um assunto. Um coração vasto. Sincero e sagaz. Cinematográfico.
Espalhado como orquestra. Um coração que partilha, sente, compartilha,
tece empatias, que ainda percebe o que pode ser amar sem esperar. Um
coração atento, que ouve (sentidos internos e ruídos lá fora). Que já
não sonha, mas sorri e se coloca aberto, sobretudo nas grandes
metrópoles. Pouco assustado, mas astuto. Não é coração de Fagner ou
Roberto Carlos, mas sim um coração de Wilde, Brecht, talvez Hilst. É um
coração vasto (não consigo definir melhor).
sexta-feira, fevereiro 17, 2017
O dia que me senti mais sozinho no Rio
O dia que me senti mais sozinho no Rio
Andando pelo Centro
Entre suas construções megalomaníacas e fantasmagóricas
Amalgamadas em camadas disformes do tempo
Percebo as pompas monárquicas
As sutilezas da Belle Époque
As vozes das resistências negras
Os nódulos da ditadura
Os ecos da colônia
Entre um almoço com amigos e caminhadas nas ruas
Soluço
E desejo desdobrar todas as obrigações e razões
Para viver a cidade de uma maneira mais coletiva
Porque nunca me senti tão sozinho como hoje
E penso: Rio, não me deixe.
Você não pode ir ainda muito com a minha cara
Mas eu já conheço teus sinais, sintomas e sintonias
Teus cosmopolitismos e provincianismos
Tuas manias de grandeza e tuas resistências
As gambiarras e ostentações
Eu sinto o cheiro dos ossos dos teus habitantes
E preciso desse teu exagero solar
Que amansa minhas luas
Rio, não me deixe!
Essa minha carcaça pode ser rasa e perecível
Mas o coração é vasto
Me acostumei com tua poesia mundana
Tuas óperas sobrepostas e distorcidas
Eu conheço tuas almas, você já não me engana!
Nem de longe você é um mero postal turístico
Ou uma nota de samba for export ou bossa nova de novela
Conheço teus ruídos, teus silêncios, teus aplausos e condolências
Rio, não me deixe!
Não me deixe nunca mais me sentir tão sozinho como hoje
Me senti em São Paulo
Já me deixo levar por tua sinfonia cotidiana
Diferente das que ficaram em Pernambuco
Essas para mim, já se tornaram partituras de vitrines
Telas bonitas em molduras, com penduricalhos de frevos e receitas da minha avó
Rio, não me deixe!
Apenas me perceba, saiba da minha existência
Mesmo que te incomode, mesmo que te inquiete
Me deixa respirar tua rotina
Por muitos mais anos
Mesmo que você se decepcione nas minhas fraturas expostas
Nas minhas imaturidades assustadas
Não me deixe, porque aí seria partir para um limbo.
Andando pelo Centro
Entre suas construções megalomaníacas e fantasmagóricas
Amalgamadas em camadas disformes do tempo
Percebo as pompas monárquicas
As sutilezas da Belle Époque
As vozes das resistências negras
Os nódulos da ditadura
Os ecos da colônia
Entre um almoço com amigos e caminhadas nas ruas
Soluço
E desejo desdobrar todas as obrigações e razões
Para viver a cidade de uma maneira mais coletiva
Porque nunca me senti tão sozinho como hoje
E penso: Rio, não me deixe.
Você não pode ir ainda muito com a minha cara
Mas eu já conheço teus sinais, sintomas e sintonias
Teus cosmopolitismos e provincianismos
Tuas manias de grandeza e tuas resistências
As gambiarras e ostentações
Eu sinto o cheiro dos ossos dos teus habitantes
E preciso desse teu exagero solar
Que amansa minhas luas
Rio, não me deixe!
Essa minha carcaça pode ser rasa e perecível
Mas o coração é vasto
Me acostumei com tua poesia mundana
Tuas óperas sobrepostas e distorcidas
Eu conheço tuas almas, você já não me engana!
Nem de longe você é um mero postal turístico
Ou uma nota de samba for export ou bossa nova de novela
Conheço teus ruídos, teus silêncios, teus aplausos e condolências
Rio, não me deixe!
Não me deixe nunca mais me sentir tão sozinho como hoje
Me senti em São Paulo
Já me deixo levar por tua sinfonia cotidiana
Diferente das que ficaram em Pernambuco
Essas para mim, já se tornaram partituras de vitrines
Telas bonitas em molduras, com penduricalhos de frevos e receitas da minha avó
Rio, não me deixe!
Apenas me perceba, saiba da minha existência
Mesmo que te incomode, mesmo que te inquiete
Me deixa respirar tua rotina
Por muitos mais anos
Mesmo que você se decepcione nas minhas fraturas expostas
Nas minhas imaturidades assustadas
Não me deixe, porque aí seria partir para um limbo.
Assinar:
Postagens (Atom)