quarta-feira, abril 20, 2011

good winter for folk songs


Essa semana, a cidade está cinza. Massas de ar frio, há dias, repousaram nesses céus, e relaxam suas gotas sobre os prédios e asfaltos. A temperatura experimenta uns graus menores. Seria um inverno nos moldes tropical chegando. Um contexto perfeito para ser associado a uma boa trilha sonora, fator esse que sempre faço questão de selecionar com certa estratégia, ao sair pelas ruas. Ultimamente tenho mergulhado nos artistas e gêneros o qual são etiquetados como folk (uma variante forçosa do termo folklore: "a música transmitida oralmente, das classes privadas de sorte, longe dos ditames das peças clássicas e comerciais"), hoje, considerado um estilo peculiar de compositores, a buscar influências nas raízes dos campos anglo-saxões ou das montanhas norte-americanas, com bases na cultura do country, blues e bluegrass, e umas pitadas aqui e ali de temperinhos "electriques". Pianos, banjos, muitos violões e violas, guitarras esparsas, violinos, cellos, e até harpas e auto-harpas, ou mesmo ousadias com cravos povoam as sonoridades e arranjos.O canto e letras remontam por vezes aos trovadores medievais, que narravam musicalmente crônicas do cotidiano dos burgos e feudos. E a natureza desses contemporâneos? Por vezes, universitários ou desiludidos, residentes do Brooklyn ou de cidadezinhas inglesas, que inspirados pela literatura, filosofia e história, construíram seus versos. Esse "novo folk" nada mais é que uma re-apropriação de uma vertente já sacramentada por personagens como Bob Dylan, Vashti Bunyan e Joni Mitchell noutras décadas. Aqui, a cidade e o campo, como panoramas, se confudem, sobrepõem-se, derrubam dicotomias, e essa relação é fatalmente identificável com este ouvinte que escreve. E neste caldo de sons e reflexões, me deparo com um músico no estado norte-americano de Wisconsin. Justin Vernon, nascido na cidade de Eau Claire (nome em francês para "água clara"), ingressa na universidade local no curso de música, e ainda durante seus estudos, reúne amigos na formação espontânea de bandas. Passada a euforia, Vernon refugia-se durante três meses no nordeste do estado, em uma cabana de madeira pertencente a seu pai, bem aos moldes "into the wild"; e desse retiro, nasce o álbum de estreia "For Emma, Forever Ago", componente de um novo projeto criado pelo artista intitulado "Bon Iver" (uma variante do francês Bon Hiver ou Bom Inverno), talvez uma alusão a esses nevados meses nas florestas. A sonoridade e voz do Justin refletem as calmas paisagens do Wisconsin, uma região repleta de planaltos e plancíes, além de seus extensos lagos e pastos. Dialogando seus instrumentos tradicionais do "folk", com ambiências eletrônicas de leve, o cantor/compositor ganhou destaque com seu projeto desde 2007, sendo bem aceito não apenas por um público já estimado, como também acabou por cair nas graças de artistas como (pasmem!) Kanye West, que o convidou a participar de seu último disco "My Beautiful Dark Twisted Fantasy". Vale destacar algumas de suas canções como: Flume, Skinny Love, For Emma e Brackett W9, além da faixa Wisconsin. Para dias chuvosos, viagens pelas serras ou mesmo em aconchegos de casa, as melodias simples de Bon Iver repousam sem ressalvas nos bons ouvidos e corações.

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