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Praça Mirandibense |
No mês de abril, eis que surge uma demanda de trabalho num município da região do Sertão Central: Mirandiba, situada a uns 420 km da capital, tendo por vizinhas, dentre outras, Serra Talhada, São José do Belmonte e Carnaubeira da Penha. O objetivo, a princípio, seria o de construir uma oficina com temáticas de preservação do patrimônio cultural para que a comunidade se apropriasse e preservasse dois bens culturais da região (a Mangueira do Brejo e o Casario do distrito de Tupanaci), ambos apresentando possíveis potenciais turísticos, inclusive.
Com pouco mais de 15 mil habitantes, o pequeno e charmoso município no semi-árido pernambucano, apresentava ainda outras surpresas, que nos levou a uma pesquisa de campo extensa e complexa. Saindo do Recife ainda na madrugada da quarta-feira (dia 27), já reunia alguns escritos sobre a região, dentre estes, informações sobre a presença de comunidades de remanescentes quilombolas, espalhadas na zona rural do município.
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Entrada do Município |
A viagem até Mirandiba passava por lugares já bem conhecidos de outros trabalhos de campo; as inúmeras "vendas" de mel e queijo em Sanharó, o panorama de Pesqueira e suas construções religiosas seculares aos pés da serra, o Vale do Catimbau e suas cidades de pedra, as igrejas em neo-gótico de dezenas de municípios do agreste e sertão, e muito verde, por todo lado, desconstruindo aquela ideia de seca e atmosfera moribunda que a mídia vez ou outra gosta de transmitir sobre o sertão, já rejeitada por muitos há tempos.
E por volta das 11h, chegamos à sede do município, que tomei logo por "dotada de um certo charme". Duas avenidas cortando a cidade, uma imagem de São João (padroeiro), o portal de boas-vindas, algumas casas que revelavam décadas de existência, duas igrejas, o cemitério e várias pracinhas. Outro elemento interessante era a forte presença da população negra e de como ela se auto identificava como tal, um resultado, possivelmente, da grande quantidade de remanescentes quilombolas em seu entorno. Ouvimos inclusive, histórias de racismo ainda da década de 1970, dos clubes para "os brancos" e "os negros", da segregação, fruto da dominação das famílias de fazendeiros. Porém, todos diziam que atualmente essas barreiras haviam, de certa forma, se desmanchado.
Na prefeitura, tivemos conhecimento, a partir de seus funcionários, sobre alguns bens culturais na região, além das lendas e histórias que os "antigos" contam e povoam o imaginário da população (que mais tarde serão narradas pelos moradores na nossa pesquisa, permitindo a construção de outras interpretações). Foi conversado também com um representante dos quilombolas, além de se descobrir, a partir de uma breve conversa com um descendente dos índios Atikum, a quantidade de índios "desaldeados" que moram na cidade, com origens nas aldeias na Serra Umã, divisa entre Mirandiba e Carnaubeira da Penha. Estava aí um panorama riquíssimo a ser estudado e analisado, o que exigiria muitas andanças.
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O comecinho da noite |
Almoçamos a típica carne-de-sol e fomos à pequena pousada de dona "Fia", que me lembrava um pouco aqueles casarões sulistas norte-americanos (só que com ares sertanejos). Marcadas as primeiras visitas, iríamos até as comunidades quilombolas de Feijão e Queimadas (próximas à cidade) e depois faríamos um reconhecimento da área urbana (nesse primeiro dia).
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