quarta-feira, janeiro 07, 2015

21 de novembro de 2013 - São Lourenço de Tejucupapo-Goiana/Pernambuco

Hoje entrevistei na Povoação de São Lourenço de Tejucupapo - Goiana, D. Marli. Mulher, católica fervorosa, negra, na casa de seus 80 anos e com uma sabedoria que acredito que nem ela sabe seu tamanho. Antes mesmo de entrar em sua casa, já a avistei de longe, do terraço, observando sorridente a roda de capoeira que acontecia na praça. Ao cumprimentá-la, seu sorriso era de receptividade, e pedi licença para que pudéssemos conversar sobre sua vida, suas impressões, sua visão de mundo, da comunidade, de suas culturas e identidades. Sua energia tomava conta do espaço e me envolveu, como poucas pessoas conseguem me envolver numa primeira conversa. Ao longo das histórias, Marli se declarou analfabeta (e me perguntei: ela pode acreditar que por não conhecer as letras, não lhe alcança o mundo). Pois que nada! D. Marli é uma mulher sábia, que em seus pequenos espaços de sociabilidades, experimentou a vida, a viu fluir, em tantas vivências, alegrias, perdas, passagens, visitantes. Ali, cuidando da igreja de São Lourenço (hoje com títulos de patrimônio cultural de Pernambuco), D. Marli construiu uma vida simples, porém sincera, de lutas, repressão, saltos, enfrentamentos; e hoje, ao ouvir suas histórias, percebo as infinitas possibilidades da vida. Por fim, não resisti! Quebrei protocolos acadêmicos bobos e a abracei, bem forte, declarando: "a senhora é muito mais sábia que eu, que brinco de brincar com as palavras".

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