quarta-feira, maio 04, 2016

20 vezes 3

Um dia fui almoçar num restaurante bem tradicional aqui do Rio chamado Eskimo, localizado na Travessa do Ouvidor no Centro. Por vinte reais, você tem direito a um almoço bem servido (com várias opções e combinações disponíveis), um refresco e sobremesa. Um preço relativamente até em conta.
Na hora de pagar a refeição, estava na minha frente uma senhora com seus dois netos (provavelmente) perguntando à caixa quanto era cada almoço. Ao saber do valor, a senhora mexeu nos bolsos e olhou para seus netos (mas sem um semblante de vergonha), como se quisesse dizer: "é, hoje não vai dar".
Paguei o meu almoço e olhei de longe a senhora com seus netos virando a esquina. Na minha cabeça só vinha uma frase:
Queria ter aqueles sessenta reais
Queria ter aqueles sessenta reais
Queria ter aqueles sessenta reais

mais do Rio

Acho que hoje foi o dia que mais andei no Rio de Janeiro e passei por vários bairros. Entre um ônibus e outro, e compromissos, andei a pé pela Tijuca (meu bairro), Lapa, Flamengo, Botafogo, Urca, Meier, Madureira! Fotografias mentais e digitais. O Rio ainda me inspira muito, inclusive na escrita (seja ela acadêmica ou não). Te amo, Rio! Confesso! Aceita esse pernambucano!


A esfiha no Largo do Machado
A ciclovia do Aterro do Flamengo
Os jardins do Palácio do Catete
A Igreja da Glória do Outeiro
As ruas do Flamengo
As casas ecléticas da Glória
A praia de Flamengo/Botafogo (a vista da baía)
Os bares da Voluntários da Pátria
O Fornalha/Catarina
A casa de Grandjean de Montigny na Gávea
A paisagem da Rocinha
O Saara
A Cinelândia
O convento de Santo Antônio
As ruas de botafogo
As pedras da Urca
O hotel de Januzzi na Avenida Rui Barbosa
O CCBB
A igreja da Candelária
O bairro da Saúde
As ladeiras de Santa Tereza
A imensidão da Presidente Vargas
A praça Tiradentes
A avenida Passos
A rua Santa Luzia
O mate no centro
O almoço do Eskimo
O Rivalzinho na Cinelândia
O Theatro Municipal
A rua do Lavradio
O buxixo da Lapa
A Praça XV/Arco do Teles
O largo de São Francisco
A Praça Mauá
O morro da Conceição
As bibliotecas do Centro
O art deco na Tijuca
A Praça Saens Pena
O Largo da segunda feira
O almoço na Uruguai
As comidas na Dias d Cruz no Meier
O buxixo do Meier
O prédio da UERJ
As casas de Engenho de Dentro
A estação ferroviária de Marechal
O Parque de Madureira
O shopping Madureira
A praça do patriarca em Madureira
A praça na Vila Valqueire
A praia na Barra
As quentinhas do Campinho
A paisagem em Del Castilho de noite (que lembra Gravatá, os morros ao longe)
O hotel Marina no Leblon
A Casa de rui Barbosa em botafogo
A feira das yabas em Madureira
A feira de São Cristóvão
A quinta da Boa Vista
A festa junina da Afonso pena
O mosteiro de São Bento
A igreja de São Jorge em Quintino
As construções neogóticas em Cascadura e Piedade
As casas em Grajaú
Os cinemas art decó em Vicente de Carvalho e Ramos
A Fiocruz em Manguinhos
O Palácio tiradentes
O Palácio Capanema
O prédio da Santa Casa
A Academia brasileira de letras
A estrada Grajaú-jacarepaguá
A Pedra do Sal
O cais do Valongo

Tantas coisas, tantos Rios vividos

projeto

No fundo, bem lá no fundo, eu queria mesmo era viver numa sociedade sem dinheiro, sem consumo, sem essa necessidade toda de bens materiais. Não existiria celular, nem internet? Tudo bem, me adaptaria fácil. Uma sociedade sem ganância de poder. Mas como isso pode ser sonhar demais, uma social democracia já estava bom pra começar. O que não dá é uma vida que gira em torno de altos e baixos da bolsa e especulação financeira. (ponto final)

Nina

É difícil escrever alguma coisa assim de surpresa para quando alguém muito querido vai embora. Um embora para outros planos. Nesse domingo soube da notícia de que a querida Nina (para quem não sabe, uma amiga que trabalhava na casa dos meus familiares há praticamente 20 anos) e que me viu crescer, junto com minha irmã e primos lá em Gravatá, veio a falecer.
Nina me fez enxergar outras realidades da vida para além de um mundinho fechado de superproteção que eu nunca quis ter. Ela me fez sempre pensar na simplicidade da vida desde cedo, de que devemos ultrapassar as barreiras das diferenças sociais, de que todos carregamos uma história de vida, e que somos iguais: "ninguém é melhor que ninguém" (como já dizia). Nina acompanhou tantas fases minhas. De quando era o gordinho desengonçado, o menino fechado e tímido, o roqueiro querendo ser rebelde, aquele que foi depois ao Recife construir outras coisas, e que agora em fevereiro presenciou minha vinda definitiva ao Rio, quando a gente até conversou sobre como é viver numa cidade tão grande e longe de um mundo tão confortável, comunitário e "nosso" que é Gravatá.
Talvez para mim a ficha só venha a cair quando eu subir a minha serra, e vai ser muito estranho, e triste, não perceber mais a presença de uma pessoa tão querida e que fez e fará parte da minha vida por tantos e para tantos anos pela frente.
Descansa em paz, Nina. Que daqui, nunca vamos esquecer o seu carinho, e eu, a sua companhia e sorriso. Para mim, você era quase uma madrinha!

uma ilha

Hoje sonhei que morava numa ilha no Atlântico. Parecia Cabo Verde, porque todos falavam da Cesaria Évora e eu conhecia a Nancy Vieira (uma cantora mais contemporânea). E nessa ilha não tinha tristeza, nem frustrações ou medos. Tudo fluía de uma maneira muito espontânea e sem a necessidade de muitas teorias e normas. Todo dia era música. Serenidade. Livre vontade e respeito. Sentia dessas posturas de comunidade como quando criança na minha serra (onde não conhecia hipocrisia). As almas de todos eram sinceras e os abraços demorados. Da pólvora só se conhecia nos fogos de artifício. E ninguém precisava de indústrias. Cada dia o novo acontecia e relógio não tinha muito sentido. Irei buscar uma ilha assim pelos próximos anos? Quem dera! Por enquanto, posso por vezes tentar carrega-la no meu coração.

retorno - um sertanejo

Retorno
1985
Madrugada fria agreste
Dores e contorções
Dos Açores áridos
Vales rochosos sertanejos
Frio de altitudes e sangue
Borbulhas e Vida
Águas e espera
Mistérios do porvir
Um menino
Sertões e infinito
Da alma
Pernambuco
Ipojuca e Capibaribe
Nome de avô
Grego
Pulsar nervoso das veias
A imensidão da paisagem
Deserta e árida
O desejo de desterro
Raízes espalhadas
Ciganos e estradas
Rompendo as fronteiras
Brasil
Rio de Janeiro
2015
Um sertanejo

mais impressões cariocas (texto de 2015)

Logo mais já ta fazendo um ano que moro no Rio (passou tão rápido!) E eu queria compartilhar minhas impressões em pequenos tópicos.
1) para os desavisados o Rio não tem nada a ver com as novelas da Globo (ainda bem)
2)o meu lugar preferido (de longe) é o Centro (arquiteturas, prédios monumentais, movimento, diversidade, é uma mega síntese de Brasil urbano)
3) eu realmente acho que a zona norte é a minha cara (e eu acho mais aconchegante morar nela)
4) adoro a Glória e o Catete, ainda quero fazer umas séries de fotos das construções por lá
5) Santa Teresa me lembra Olinda só que bem mais alta
6) eu gosto do carioca porque ele é "safo". Não leva desaforo pra casa.
7) sou apaixonado pelas bibliotecas daqui. Todo historiador deveria conhecer
8) em toda esquina tem pizzaria e habibs é mais comum na zona norte
9) o trânsito do rio perde para o de Recife (sério)
10) as oscilações de clima aqui me deixam confuso, as vezes
11) muitas ruas e lugares tem o mesmo nome que lugares no Recife e mesmo em Gravatá (coisas de República)
12) aqui tem sempre gente e movimento na rua (pelo menos até meia noite) e eu adoro isso
13) vocês não sabem nada de funk até virem aqui e conhecerem o "roots"
14) não existe um sotaque carioca, existem variações dependendo onde você mora e com quem você anda
15) eu adoro os meus amigos daqui (e queria ter mais tempo pra eles, mas deixa passar essa dissertação, não vou voltar pra terrinha mesmo rs)
16) a violência que a mídia fala do Rio tem uma mega dose de sensacionalismo. Violência existe, mas infelizmente é um problema das grandes cidades brasileiras
17) eu acho a geografia daqui (baía, planície, montanhas) uma das mais bonitas no Brasil (que nem Recife rs)
18) eu ouvi falar que as melhores praias aqui são da Barra "pra lá". Não sei ainda porque não tomei banho de mar até hoje (mas deve ser verdade)
19) sou apaixonado por Petrópolis
20) o carioca é espiritualizado. Ele vai na igreja católica, no centro espírita, no terreiro, adora astrologia e tarot. E aqui é a cidade que mais tem igrejas e terreiros (adoro)
21) cerveja é a bebida mais consumida aqui. E não mate rs
22) todo mundo gosta de tapioca. Ficaria rico vendendo
23) tem muito nordestino, filho ou neto de famílias nordestinas aqui. Eu realmente acho que é o lugar que melhor recebe o nordeste.
24) a feira de São Cristóvão é um pedaço da minha visão do meu sertão, de gravatá
25) tem muito karaoke na cidade

sobre beleza


"Nada do que é vivo é rigidamente perfeito (...) em todas as coisas vivas há certas irregularidades ou certas falhas que não são apenas sinais de vida, mas fontes de beleza (...) banir a imperfeição é destruir o expressivo, paralisar a vitalidade"
Do livro: Ruskin et la religion de la beauté (1899 - tradução livre minha)

livros

Lembro que na casa da minha avó materna havia um armário de madeira velho e amarelado que guardava livros que minha mãe e tios tiveram durante a infância e adolescência enquanto estudantes. Hoje, como um historiador formado, percebo que se me deparasse com esse armário mais uma vez (que achava bastante interessante quando era criança e pré-adolescente), poderia fazer uma verdadeira história da leitura e da educação no Brasil nas décadas de 50-70, além de, a partir de um acervo tão diverso de dicionários e gramáticas de português, inglês e francês, livros de contos de fadas, romances do século XIX nacionais e estrangeiros, álbuns de imagens e almanaques, livros de história, ciências, geografia, cadernos e cadernos com anotações dos meus tios de suas aulas, poderia até construir uma narrativa de jovens no interior de Pernambuco naquele período. De seus sonhos, imaginações, expectativas. Talvez depois de terminado o meu mestrado teria bons objetos para me divertir nas escritas da minha profissão da História.

fight

Mais do que nunca (e as redes sociais tem me mostrado isso), percebo o quanto a História (enquanto disciplina) tem se mostrado importante. Seja na ação política e de transformação junto aos movimentos sociais (lgbt, raça e étnicos, periferias, países fora do centro, feministas, anti ou ressignificador do capitalismo, etc), nas revisões de uma historiografia antes posta como oficial e engessada, nas formas de se repensar a memória e como lidamos com o nosso passado, e até mesmo, percebo que hoje estamos mais atentos à complexidade do que seria a ideia de tempo! Não vejo mais aquele sentido de história monumental e arqueológico-antiquária que infelizmente percebia ainda na minha infância (apesar do século XX inteiro ter repensado esse artifício).
É tempo de sairmos das torres de Marfim acadêmicas e ganharmos o mundo, num mundo que se sonha desde a década de 1960 (e acho que já começo a ver bons resultados nisso), a despeito das falácias, a História ganha hoje as mesas de bar e as conversas de elevador.
Ou será que isso é fantasia da minha cabeça?

ainda antes do circo todo

As resistências dos sobrados que teimam em ficar de pé (mesmo em estado deplorável) nos centros das grandes cidades é semelhante ao que se percebe das esquerdas tradicionais brasileiras. Está na hora de sairmos desse estado de letargia. Não dá mais pra fazer política da forma que vem se processando, com alianças duvidosas, jogo de cadeiras nos ministérios e as grandes fortunas e empresas ditando as regras do jogo e sucateando os serviços públicos. Abre o olho, presidente! Tem cheiro podre de golpe no ar e isso me assusta. Olha, sinceramente? Eu to achando que o Congresso ta precisando de uma chacoalhada (movimentos à força mesmo), ta virando falácia o discurso de democracia. Eu estou começando a pensar que dentre as saídas estão os movimentos de desconstrução mesmo, bem nos moldes jacobinos, na violência, seja física ou simbólica. No parar o relógio, reverter o tempo. Derrubar os novos tronos. Descer o morro, inverter a pirâmide, expulsar do país cunhas e associados. E não me venham com história de impeachment, esse absurdo eu passo. Os alvos são os outros, ocultados por nossa mídia vendida. Posso não ser cientista político, aliás, está mais do que na hora da política sair da academia e ganhar as ruas!

saídas (outubro de 2015)

Há exato um ano, no dia do professor, larguei tudo em Pernambuco para tentar a sorte no Rio, vim só com passagem de ida e a esperança em ingressar num bom mestrado em História. Dos meus medos e expectativas de achar pós-graduação um bicho de sete cabeças acabei passando em duas seleções, depois de muito estudar e quebrar cabeça com a construção de um projeto. Já conhecia o Rio (de viagens anteriores e dos livros sobre a cidade nos séculos passados), mas essa cidade nunca deixou de me surpreender (e até hoje me surpreende), mesmo com todos os problemas que uma cidade grande brasileira oferece (não esqueçamos que já enfrentava problemas semelhantes no meu amado Recife). Mas os múltiplos Rios de Janeiros que encontro aqui são muito estimulantes, além dos amigos que já tinha e as novas amizades que construí aqui (e desculpa pelo sumiço, gente, eu vou tentar conciliar mais as exigências da dissertação e a saudade de vocês).
Não é que eu esnobe o meu Estado de origem, que amo e admiro muitos de seus cantos (Recife, Olinda, os sertões, minha Gravatá), mas desde que sai da casa dos meus pais aos 17 sabia que ia ganhar o mundo e que isso poderia significar estar mais distante das minhas raízes (precisava de novos ares e com toda gratidão e sabedoria espero que o Rio possa me oferecer muito ainda, e que eu possa também retribuir).

sonho

Hoje eu tive um sonho bastante curioso. Vivia num mundo com várias nações pequenas e semelhantes às sociedades ocidentais que conhecemos de dias atuais. Porém, muitas delas (inclusive a que eu vivia), estavam em guerra com suas vizinhas e ainda por cima escravizavam povos que se assemelhavam a indígenas ou latinoamericanos (na minha cabeça era como se fossem descendentes dos astecas). O curioso, é que descubro, nos fundos da casa de um parente, uma passagem escondida subterrânea que revelava toda uma sociedade fantástica, complexa e mergulhada numa fusão de alta ciência e magia. E essa sociedade era mantida pelos próprios escravizados, que quando estavam fora do período de trabalho forçado, se refugiavam nesse outro mundo subterrâneo, enquanto lá em cima, os outros guerreavam entre si quase apenas como por esporte.
Acordei pensando que mais do que nunca, esse outro mundo precisa emergir.

funk e brega

Eu ainda não entendo porque as pessoas falam tão mal de funk e de brega! Se tem dois mundos que tem as melhores bases de "miami bass" (funk) e os melhores samples, covers e versões de kraftwerk, madonna, e outras "bibliotecas" dos anos 80 (brega), sem contar as variações sonoras de um kitsch meio anos 70 norteamericano, e as misturas com vários elementos da música eletrônica. Além de ser a galera mais (do-it-yourself) que tem no Brasil (dos instrumentos aos locais de gravação). Tem coisa mais "punk" e mais anti institucionalizada da música que essa? (E não tô falando de Anitta e nem de Banda Uó, por favor! )

alma sertaneja

Posso dizer que a minha alma é sertaneja: vim de uma região no Nordeste chamada Agreste, que escapa às classificações geográficas e taxiológicas, das paisagens espontâneas, desordenadas, irregulares, dos acasos, surpresas, superstições, de posicionamentos e visões de mundo ainda mágicos, tudo com uma lógica circulante, de um vocabulário bastante inteligível aos que nasceram por lá, mas confuso para os metropolitanos (que bradam e se orgulham da razão, da exatidão científica, das proporções harmoniosas das formas). Talvez dessa alma sertaneja brotaram meus interesses que passam longe de ideais estéticos de perfeição e racionalizações da vida. Daí meu fascínio pelas periferias, pelas urbanizações "semeadoras", pelas favelas, pelo esquerdo (mesmo inserido no centro), pelas culturas não-ocidentais, pelo movimento punk, pelos cantores que se deixam desafinar, as músicas que desabrocham no momento (sem muita matemática), pela arquitetura irregular gótica, pela estética romântica, anti-clássica, na contramão dos corpos "michelangescos", pelo barroco, as vanguardas do século XX, a astrologia, as circulações de energias, o imprevisível, a "selvatiqueza" das formas, o "do-it-yourself" (ou "faça você mesmo"). Tudo isso é caro não só às minhas inclinações cosmopolitas, mas também dessa alma SERTANEJA.
Que 2016 seja uma ano assim pra mim: um ano Sertanejo!

Como nossos pais

Conversas entre pais sobre seus filhos, por vezes acaba sempre numa disputa de ego, quando um quer mostrar que "meu filho está muito bem sucedido aos 20 e poucos anos" e o seu? Já percebi que vez ou outra acontece isso com meus pais, com gente querendo se exibir demais pra eles. Posso não ser desembargador, nem médico de sucesso, nem militar, nem um empresário bem sucedido, mas faço o que realmente amo e sinto que estou no caminho certo (não pretendo acumular fortunas) e meus pais tem orgulho de mim sim! E eu, deles, que sempre me ensinaram coisas boas da vida e a respeitar as escolhas e histórias de cada um!

o homem vitruviano

O homem vitruviano destroi o diferente. Ridiculariza o imperfeito. Caçoa do espontâneo. O homem vitruviano estampa nossas capas. Entope nossa estética. Nos aprisiona na busca do perfeito. O homem vitruviano declara ser tudo questão de gosto. Apodrece nas clínicas e nas academias. Segrega. O homem vitruviano está em vias de desaparecer. Amem!

o homem de vitrúvio morreu

Muitos de meus contemporâneos nascidos na década de 1980 costumam dizer que essa "nova" geração pós anos 1990 anda muito fluida, desatenta, superficial. Pensando e observando bem, ouso dizer que aqueles de vinte e poucos até os dezenove-dezoito são bem subestimados! Por exemplo, nunca vi uma "geração" tão mais aberta às relativizações dos padrões de beleza! Enquanto muitos de meus colegas de década supervalorizam o corpo "ideal" do verão, conversando e observando os mais jovens vejo que essa "ditadura" ja não faz muito sentido! Deixo aqui meus aplausos pra "new generation" e mais um "cartão vermelho" pro homem de vitruvio!

nordestino

O termo "nordestino" muitas vezes circunscreve um determinado grupo de pessoas que estão fora daquela região geográfica. "Nordestinos" são as empregadas domésticas, os migrantes nas favelas, os vendedores de queijo coalho, os porteiros, as caixas de supermercado, os de traços menos europeizados.
Muita gente se incomoda com essas denominações (já que podem carregar ideias pejorativas), eu me incomodava também quando ouvia, mas hoje eu vejo a importância política de abraçar esses termos. Já teve gente que veio me falar "ah, mas quando você ouvir alguém falando isso de maneira excludente, mostre seu exemplo e de outros, que são acadêmicos, artistas, famosos lá fora". Mas não acredito que esse seja o melhor caminho.
Eu sei também que Nordeste é uma construção (histórica-social), e sei que discursos identitários podem ser perigosos, mas nos casos de exclusão diante do outro, acho importante serem tomados. Pois eu sou nordestino sim! (mesmo com todas as diferenças de seus estados, suas microrregiões, suas cidades), e me junto a todos os outros nordestinos (do resto do Brasil) sejam professores, empregadas domésticas, porteiros, artistas. Todos aqueles que se arriscam da maneira que for em lugares diferentes de seus sotaques. E eu nunca estou sozinho!

Lima Barreto

No início do século XX havia uma necessidade por parte dos governantes da capital brasileira, então Rio de Janeiro, em transformar a cidade nos moldes urbanistas franceses então em voga. Para além de um anseio estético, a carga política e social dessas transformações eram flagrantes. Inspirada na capital "branca-europeia" de Buenos Aires, por exemplo, a Avenida Central seria o monumento da "civilização" e do "progresso" na capital brasileira.
Lima Barreto sabiamente observa em 1915 a incongruência desse projeto, que escondia mais um interesse em "europeizar" a cidade (e excluir tudo e todos aqueles que não se encaixavam nesses padrões). Ironicamente argumenta:
"A obsessão por Buenos Aires sempre perturbou nosso juízo sobre as coisas. A grande cidade da Plata tem um milhão de habitantes; a capital argentina tem longas estradas retilíneas; a capital argentina não tem negros; portanto, meus senhores, o Rio de Janeiro, cheio de montanhas, deve ter estradas retilíneas; o Rio de Janeiro, em um país que tem outras três ou quatro grandes cidades, deve ter um milhão de habitantes; o Rio de Janeiro, a capital de um país que recebeu, em quase três séculos, milhares de negros, não deve ter negros."