quarta-feira, maio 04, 2016

Lima Barreto

No início do século XX havia uma necessidade por parte dos governantes da capital brasileira, então Rio de Janeiro, em transformar a cidade nos moldes urbanistas franceses então em voga. Para além de um anseio estético, a carga política e social dessas transformações eram flagrantes. Inspirada na capital "branca-europeia" de Buenos Aires, por exemplo, a Avenida Central seria o monumento da "civilização" e do "progresso" na capital brasileira.
Lima Barreto sabiamente observa em 1915 a incongruência desse projeto, que escondia mais um interesse em "europeizar" a cidade (e excluir tudo e todos aqueles que não se encaixavam nesses padrões). Ironicamente argumenta:
"A obsessão por Buenos Aires sempre perturbou nosso juízo sobre as coisas. A grande cidade da Plata tem um milhão de habitantes; a capital argentina tem longas estradas retilíneas; a capital argentina não tem negros; portanto, meus senhores, o Rio de Janeiro, cheio de montanhas, deve ter estradas retilíneas; o Rio de Janeiro, em um país que tem outras três ou quatro grandes cidades, deve ter um milhão de habitantes; o Rio de Janeiro, a capital de um país que recebeu, em quase três séculos, milhares de negros, não deve ter negros."

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