Diamanda Galás foi uma das maiores descobertas feitas por mim no meio de tanta coisa musical interessante ou não. Podendo ser considerada uma artista de vanguarda, sua voz seria algo entre "uma extensão vocal de três oitavas e meia e cordas que vão de graves urros guturais a gritos lancinantes de soprano dramático." Sua grande paixão são os palcos, onde geralmente munindo apenas de um piano e entrando num verdadeiro estado de transe e catarse, porém meticulosamente trabalhado, lança suas canções pagãs, de fúria, de paixões, dor e morte. De fato uma das poucas artistas dotadas de uma sensibilidade que vai além da percepção da maioria dos considerados "músicos" de todo esse mainstream. Diamanda é chamada por muitos de louca, satânica, destrutiva; porém o que de fato assusta a muitos é a maneira como ela consegue tocar em feridas tão bem maquiadas por toda nossa sociedade hipócrita. Um de seus mais recentes lançamentos trata-se de um disco de covers que passeia pelos mais diversos estilos intitulado "La serpenta canta" com destaque para canções como "I'm so lonely I could cry", "ain't no grave can hold my body" e "frenzy", todas com uma roupagem no melhor estilo diamanda galás.
Artigo extraído do uol.com de 1998:
Galás é uma das artistas mais controvertidas dos Estados Unidos. Ativista de grupos de combate à Aids, Galás tatuou na mão esquerda os dizeres "We Are All HIV+" (Somos Todos HIV+) desde que seu irmão morreu, vítima da doença, em 1986. Durante uma manifestação do ACT UP (grupo gay de militância) na St. Patrick's Cathedral, em Nova York, em 1989, Galás foi presa por "distúrbio da ordem pública" e em 1990, após uma apresentação no "Festival delle Colline", na Toscana, o governo italiano a denunciou por "blasfêmia contra a Igreja Católica Romana". Em um de seus discos Galás dispara: "Satã mora na América". A mesma fúria e inconformismo que Galás expressa em sua vida de militante foram transpostos para a música. Desde seus primeiros trabalhos, "Wild women with steak knives" (Mulheres loucas com facas de cortar carne) e "Tragouthia apo to aima exon fonos" (Canção do sangue dos assassinados), de 1979, Galás trata de temas como morte, perda e isolamento, temas desenvolvidos nos trabalhos que vieram a seguir: "O isolamento pode matar", ela diz. A discografia de Galás conta com 12 discos (todos lançados em CD pela Mute Records). Em "The divine punishment", de 1989, Galás utiliza textos bíblicos musicados para mandar um recado irônico àqueles que viam a Aids como uma "punição divina". Seu disco mais recente, "Malediction and prayer" traz uma insólita regravação de "My world is empty without you", sucesso das Supremes, além de poemas de Pasolini e Baudelaire musicados por Galás. Por causa de sua postura considerada provocadora e ofensiva, Diamanda Galás já foi chamada pela crítica de "Noiva de Satã", "Diva da Doença" e "Rosa Negra da Vanguarda". Bem humorada, ela acha graça. Em abril de 1992, a revista norte-americana Vanity Fair publicou uma foto de Galás, feita por Annie Leibowitz, onde ela posa, torso nu, pendurada a uma cruz em meio a chamas. Para Galás, filha de pais gregos, a fúria é a única resposta adequada aos deuses injustos que governam a vida dos mortais: "Está no espírito grego", ela justifica.
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