
sábado, agosto 19, 2006
Misa criolla (texto antigo)
Impressionante o que você pode encontrar numa noite de quinta feira no Centro do Recife: meninos de rua pendurados nos ônibus, fiteiros cheios de pessoas comendo alimentos gordurosos, senhoras lendo bíblias em carros importados, dançarinas de brega com suas roupas espalhafatosas, “riot girls” lésbicas em frente às lojas velhas fechadas, estudantes desiludidos voltando para casa, luzes francesas refletindo no rio Capibaribe... e no meio de tudo isso, escondida no meio dos velhos sobrados e dos prédios “modernosos” pós década de 70, na rua Nova, se ergue a Igreja barroca de Nossa Senhora da Conceição dos Militares, com seus detalhes em rococó que confundiam minha visão em cada canto, cada estátua, cada relevo, em um acontecimento mágico e secreto: o coral universitário da UFPE apresenta em menos de uma hora a reconhecida e admirável misa criolla, peça musical criada por Ariel Ramirez em 1963, que adaptou o tradicional texto em latim das missas, para o espanhol e com arranjos folclóricos típicos dos paises latino americanos. Dois momentos podem ser destacados na noite: Kyrie a primeira parte da misa, acompanhada pelo tenor e todo o coral “psicodélico”, segundo o maestro, seguido pelas frias batidas de percussão que pulsavam com um ar de sagrado pelo ambiente; e logo em seguida o Gloria, belíssimo, bem acompanhado pela percussão popular, e violão com cânticos alegres que instigavam pessoas à se levantarem dos assentos e dançarem, fazendo-as esquecer de como é árdua a vida em uma metrópole suburbana brasileira. Apenas um defeito pode ser constatado pela minha análise durante toda a apresentação, tudo se fez num curto espaço de tempo, e até quebrando protocolos, merecia um popular “bis”. Isso prova que a cada dia que passa o Recife guarda seus mistérios por trás de toda essa arquitetura exótica e caótica, e a torna o lugar que escolhi para viver... por um tempo.
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